domingo, 22 de abril de 2007

celulares onipresentes



Desde que cheguei a Madrid uma das coisas que me chama a atenção é o sentido de respeito coletivo que vejo nas relações do dia-a-dia. Dois exemplos básicos: nas estações de metrô, quando querem ficar paradas em um degrau enquanto sobem ou descem as escadas rolantes, as pessoas ficam sempre no lado direito da escada, para que as que querem subir ou descer caminhando possam fazê-lo livremente. Na hora de entrar e sair do vagão do metrô, também há um consenso quase universal de que primeiro saem as pessoas que estão chegando e depois entram as que vão iniciar a viagem. Mas nos últimos dias tenho percebido que uma praga - o telefone celular - está alterando completamente minha percepção sobre os espanhóis. Em todos os lugares - até em cinemas, em casos extremos - estes aparelhinhos onipresentes são utilizados, e tenho me sentido particularmente incomodado pelo descaramento das pessoas, que ficam falando de suas vidas privadas, em lugares públicos, como se contassem uma grande história, de interesse de todos. Quando estava me deslocando para o curso em Salamanca, fiquei particularmente impressionado com um senhor, na ida, e uma senhora, na volta, que estavam no trem e falavam ao telefone (por mais de 20 minutos!), como se estivessem em suas casas. E o pior é que ninguém reagia ou reclamava. Lá pelas tantas começei a fazer uns "pssssiuuuuss!", daqueles que a gente faz no escurinho do cinema para pedir silêncio, e eles se tocaram. Mas diante da indiferença alheia começei a me perguntar se não sou eu que estou ficando velho e ranzinza a algumas coisas, especialmente quando são comportamentos de pessoas que se sentem as donas do mundo. Ah... como outra nota dissonante, ontem, depois de quase 9 meses aqui, vi um primeiro acidente de trânsito.

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