sexta-feira, 14 de setembro de 2007

o silêncio, um grande amigo


Li no Mixbrasil hoje que o senador Gersom Camata (PMDB-ES) classificou de "gays cívicos" os senadores que se abstiveram na sessão de votação da cassação de Renan Calheiros (que hoje não mais poderia ser chamado de senador, caso o Senado tivesse feito seu dever de casa).
Sempre soube que o silêncio é o melhor antídoto para a ignorância e também o melhor amigo da sabedoria, mas fico sempre surpreso e impressionado quando as pessoas, especialmente as públicas, usam as palavras de maneira leviana.
O argumento do tal senador é que os "gays cívicos", que se abstiveram, seriam coluna do meio, nem sim, nem não. Em suas palavras "Ele é meio termo, ele está no meio. Quer dizer que, além de se esconderem na covardia vergonhosa da votação secreta, ele se esconde na abstenção". Estou reproduzindo o que ele disse e pensando na lógica provável de seu raciocínio estapafúrdio: gays são covardes, vivem na vergonha, têm vida secreta, escondem-se, abstêm-se de tomar posições na vida. Como diria um amigo meu, AFF! E ainda arremata o tal senador na entrevista aos jornalistas: "Pelo amor de Deus, põe aí que eu não quero ofender os gays".
Este é um exemplo perfeito da lógica irracional e inaceitável da LGTBfobia: destrói-se física e-ou simbolicamene a pessoa gay, lésbica, travesti ou transexual, faz-se comentários ultrajantes e que produzem humilhação, mas diz-se que não se tem intenção de ofender - os gays ou quem quer que seja.
Quando penso em gay cívico, a referência que me vem à cabeça é completamente diferente da dos tais senadores que se abstiveram. Ao invés, para mim são aqueles homens e mulheres que, mesmo não sendo gays ou lésbicas, estão dispostos a lutar na arena política contra a exclusão, a marginalização e a negação da cidadania e os direitos humanos de pessoas LGBT.
Um exemplo perfeito de "gay cívico", que tem nome e sobrenome e não vive em sessões secretas, é José Luís Rodríguez Zapatero, presidente espanhol, figura-chave no processo de aprovação das leis que permitiram o acesso ao matrimônio a casais de pessoas do mesmo sexo e a mudança de nome e sexo nos documentos de registro civil de pessoas transexuais.
Ainda bem que eles, estes fantásticos gays cívicos, existem. Pena que muitos não vivam por aqui...
Em tempo. Entre 23 e 29 de setembro, acontecerá, em Buenos Aires, o Campeonato Mundial de Futebol Gay. Poucos anos atrás acho que isso seria quase impossível. Mas a fila anda, embora as vezes pareça parada por muito mais tempo do que o suportável.

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